vamos ver agora alguns pontos que eu acho importante ao ver uma página finalizada. Deixo aqui umas observações: essa é a minha forma de olhar, não digo que é perfeita e que vai garantir um material sem falhas, assim como todas as outras dicas que dei. E foi feita para artistas com uma certa experiência, não é um material didático, essa nunca foi minha proposta.Agora os pontos.
-A interpretação dos personagens está satisfatória? Olhe as expressões, o corpo, mãos… O personagem precisa passar a idéia da cena com perfeição. Um grande roteiro pode ser destruído por um desenhista muito bom mas com pouca noção de interpretação. O que acontece muito é dos desenhistas terem suas quatro expressões favoritas. Alguns chegam a ter dez. Mas o ideal mesmo é você ter como fazer qualquer expressão que for necessária. Muitas histórias são contadas por nuances. Uma cena de felicidade pode esconder um pequeno drama em uma expressão, em um olhar baixo.
-Balões e espaços estão do tamanho certo? Muito grande deixa o texto nadando dentro. Muito pequeno, deixa o texto expremido. Tente calcular o espaço ideal para o texto ao fazer os balões, ou faça eles digitalmente. Espaços entre quadros devem ser o suficiente para demarcar onde começa e acaba os quadros, para a visão não fugir. Costume fazer espaços horizontais maiores e verticais menores, isso ajuda a organizar a ordem dos quadros. E não deixe nenhum quadro ser dividido na mesma linha do outro em blocos diferentes. Isso ajuda a separar os quadros entre si e não causar a impressão de que são continuos, como quadros cortados por um outro sobreposto.
-O traço está constante? Os personagens não parecem mudar no meio da história, ficar com o rosto diferente, anatomia diferente? Isso acontece muito, principalmente em primeiros capítulos, por falta de prática em desenhar o personagem. Muitos autores famosos dizem que levaram anos até poder desenhar os personagens sem referência, seus próprios personagens. Por isso, tenha colado na sua frente diversas ilustrações dos seus personagens e adicione novos sempre que tiver alguma expressão, algum ângulo novo. Faça uma pasta de pesquisa rápida, pra poder conferir sempre que precisar. Tome cuidado principalmente no protagonista e nos personagens de apoio mais constantes na trama.
Os artistas, principalmente os que só desenham e não escrevem, costumam ter algumas manias de ilustrador. Todo quadro precisa ser visualmente belo, sempre que um personagem aparece precisa posar, closes, closes, closes. Artistas acostumados com ilustrações não gostam de quadros de ambientação, de posicionamento, quadros de passagem. Mas os quadros são todos necessários para se contar uma história. Por isso, desenhista, não tenha medo de fazer um quadro com apenas cenário e gente de costas. Desenhe copos e vasos em destaque com a perfeição de seus personagens, ou até mais. Não tenha medo também de fazer cortes estranhos, como na linha do nariz, meio rosto, um quarto de rosto, garganta, detalhe na roupa… Nem todo quadro que aparece personagem precisa aparecer cabeça. Aprenda a ousar nos cortes pra contar sua história.
A solução é usar o branco. Bordas ou espaços brancos em volta de destaques valorizam eles e tornam até mais chamativos. Principalmente em volta de rostos, que são os detalhes que os leitores sempre buscam primeiro em um quadro enquanto leem. Basta ver o caso de One Piece, que é completamente sujo, detalhista ao extremo em cenários repletos de personagens, objetos, barcos, sujeira, sangue… Mas em volta dos personagens, sempre tem um espaço em branco, o cenário é levemente apagado, em degradê.
Por isso, muitos autores de mangá acabam tendo personagens parecidos de uma história pra outra e até mesmo na própria história. É muito mais cômodo usar algo que você já tem no repertório do que criar algo do zero de novo, repensar como vai desenhar certos ângulos, certas expressões, treinar a mão… Mãos habituadas também são um problema, porque elas desenham sozinhas o que elas costumam desenhar mais, mesmo quando você precisa desenhar outra coisa. Como eu já disse, prática. Aumente seu repertório desenhando sempre, e variando entre seus personagens.
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