Há muito tempo que venho querendo escrever um novo texto para o blog, e hoje resolvi arregaçar as mangas.O que me motivou foi que fiquei intrigado com um pensamento que muitas pessoas religiosas alimentam sem entender bem o que elas estão fazendo. Daí vem o troll e diz “Mas qual raciocínio o religioso alimenta que seja certo? kkkkkkkk” Bom, desculpe decepcionar, mas como já foi dito anteriormente, este blog não é um espaço anti-religioso. Perdi uma quantidade considerável de seguidores e “fiéis” quando eu disse isso, mas prefiro a qualidade.
Posto isto, segue o testemunho: semana passada estava vendo um ótimo vídeo do canal QualiaSoup do YOUTUBE (pra quem não conhece, clique aqui http://www.youtube.com/user/QualiaSoup) sobre as diferenças entre uma Teoria e uma Hipótese. Obviamente o assunto rumou, como exemplo, para a Teoria da Evolução, o que gerou manifestos religiosos nos comentários. Todos os comentários eram bem padrões e previsíveis, citações bíblicas e pregações povoavam o fóro de discussão. Mas um comentário em específico, curto e direto, me chamou a atenção.
O usuário dizia mais ou menos assim:
Pouco sabem vocês, ateus, que a própria Ciência que tanto idolatram, está no processo de provar a existência de Deus e inclusive já até admitiu que seja mais provável mesmo é que Ele exista!!!
Pode soar até provocativo pra pessoas que não prestam atenção nos detalhes, mas a verdade é que essa afirmativa tem uma série de erros de informação graves que terminam tentando construir um raciocínio sofista, ou seja, levar quem a lê à uma conclusão errada. E eu não estou falando apenas sobre a lorota de Ciência casada com Religião, mas de um detalhe muito mais perigoso que demonstra claramente como o religioso se leva facilmente pela emoção e pouco pensa antes de falar ou fazer algo baseado em suas convicções, na grande maioria das vezes. A começar sobre a idéia totalmente ERRADA que o religioso mal informado tem da Ciência.
A figura que se tem normalmente é de um monte de homens de meia-idade, míopes, carecas ou de cabelos brancos, usando jalecos e andando para lá e para cá testando ratos, macacos e portando tubos de ensaio com líquidos coloridos. Ignora-se que “ciência” é, na verdade, a busca pelo conhecimento em geral. É o aluno lendo um livro, é o professor ensinando sobre geografia, é o economista dando palestras sobre comportamento do consumidor metropolitano, é a criança brincando de construir castelos de areia, é a garotinha plantando feijões no algodão, é você entendendo do que é feito o shampoo enquanto toma banho e é seu filho frequentando a escola. Tudo isso é ciência, é um amplo espectro erroneamente reduzido. Portanto, ciência não é uma exclusividade de ateístas: é uma ferramenta do ser humano para construção e entendimento do mundo onde vive. Todos a usam, dia após dia, e poucos a identificam da forma correta. Isso é uma PENA.
Continuando no assunto “ciência”, é preciso deixar claro também que a busca pelo conhecimento não é uma entidade ou um campo religioso. As pessoas não “acreditam” na ciência. Há, sim, algumas pessoas (e até aí eu concordo) que são do tipo preguiçosas, que compram a opinião de uma autoridade moral no assunto e assim já está bom. Pessoas essas que não foram educadas, de criança, a duvidar das coisas antes de formar a opinião. A estas, garanto, não só ciências como qualquer outro campo de filosofia irá gerar comodismo intelectual nelas. O famoso “vi no Fantástico, então deve ser verdade”. Mas exceto por essa estirpe e direcionando-me aos demais, “saber” não deve ser confundido com “acreditar”: acreditar é um passo ANTES do saber. Há quem pára nele, há quem prossiga adiante. Podemos afirmar então, diante disso, que a ciência não é o CONTRÁRIO da religião e nem mesmo uma RELIGIÃO A PARTE, mas sim as práticas pós-religiosas ou pós-crenças, em busca de uma verdade condizente com a realidade.
Posto isso, chegamos então ao raciocínio perigoso. A base da religiosidade e de qualquer outro tipo de crença é a fé. Acreditar, esperar que aconteça, depositar suas esperanças em um fato sem certezas concretas, apenas abstratas e emotivas. Tornar realidade, aos próprios olhos, coisas que não verdade não o são. E a fé, como dito antes, é o passo primeiro rumo às ciências, rumo à busca do conhecimento. Ora, portanto, se a ciência viesse provar fatos religiosos, eles não são mais baseados em fé, mas em conhecimento! Um evento empírico não é algo no qual se acredita, mas no qual se sabe! Se vê, se sente, se experimenta de forma coletiva e única. Se a ciência prova um evento religioso, ele não tem mais nenhuma necessidade ou mérito pra ser religioso! Qual é o objetivo em acreditar em algo que você já sabe? “Ah, o céu é azul.” - “Sim, eu vi… Acredito muito nisso”. Não soa absurdo?
Dizer que a ciência está provando falsas ou verdadeiras as afirmativas e os eventos de origem religiosa são, antes, tiros no pé. Se a ciência prova um fato religioso como falso, o máximo que pode acontecer é ele perder mais credibilidade. Mas se prova verdadeiro, é ainda mais periogoso para a religião, porque ele deixa o campo religioso e vai ao campo científico! O “milagre” acaba!
Muitos religiosos gostam de endossar que “ciências e religião não se misturam”. Eu vejo na forma de que os religiosos não só não precisam, como não querem e não podem deixar procedimentos científicos creditar ou descreditar suas doutrinas, posto que é justamente no campo do obscurantismo que a fé religiosa trabalha e, sem isso, a religião perde a força que tem entre a massa. Dennett comenta em um dos seus livros como é conveniente que o religioso afirme que a ciência nada tem que interferir com a religião quando são publicados estudos que provam suas afirmações falsas, mas quando algum estudo verifica uma veracidade, logo tratam de aliar as ciências à religião e dizer que “até os cientistas admitem deus”. Ao meu ver, isso é ameaçador para a própria religiosidade. Os ditos teólogos deveriam pensar melhor nisso antes de papagaiar sobre esse casamento forjado entre Ciências e Religião, para o bem da própria doutrina.
Gostaria só de deixar claro que, com essa minha postura, eu não estou estimulando a ignorância. Eu estou, na verdade, alertando que se você, religioso, quer dispor de suas doutrinas para a correta investigação científica, esteja alerta de que em ambos os resultados, verdadeiro ou falso, em matéria de sustentabilidade dos dogmas, sua religião sairá perdendo.
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