segunda-feira, 10 de junho de 2013
RASCUNHO,rascunho e rascunho.... Checklist do seu name
Yo!
Como o outro post foi bem recebido, aproveito esse fim de sexta feira para fazer mais um post sobre criação. Agora, um check list para names (o rascunho das páginas, para estabelecer o ritmo da narrativa). Esse é um grande problema pra muitas pessoas, principalmente se você é um roteirista e trabalha com outra pessoa.
Eu trabalho com esses rascunhos desde moleque, quando fazia fanzines com amigos do colégio. Claro que não tinha nenhuma idéia do que aquilo podia servir e usava simplesmente como um rascunho mesmo, só pra não fazer o desenho direto. Mas com o tempo, como trabalhavamos em equipe, muitas vezes eu fazia a história para outros desenharem e ai eu comecei a perceber a importância do name nesse diálogo entre roteirista e desenhista.
Partimos do conceito de que um desenhista nem sempre é alguém que pensa da mesma forma que o roteirista. O texto, mesmo com explicações minuciosas, é passivel de interpretação, e por isso, adaptação. Então, acaba ficando difícil para um roteirista ter o controle total da história, dependendo muito do desenhista. Por isso, roteiristas oscilam muito de qualidade dependendo da interpretação do desenhista.
Outro problema é a falta de noção de espaço de um roteirista. Em sua cabeça, um mundo enorme pode explodir sem problemas de ultrapassar algum limite. Isso cria as dores de cabeça dos desenhistas. Quadros impossíveis, cenas extensas demais… até mesmo um roteiro dificil de aplicar na quantidade de páginas disponível. Isso acontece muito principalmente de quem sai de uma veia mais literária do que de roteiro para teatro ou cinema, onde muitas vezes, você até usa cronômetro pra contar o tempo de cada fala. Falta de feeling com a mídia é uma dor de cabeça pra quem tiver que fazer a próxima etapa.
Por isso eu defendo que todo roteirista de quadrinhos saiba fazer quadrinhos, mesmo sem saber desenhar tão bem.
Existem dois tipos de name. O name definitivo, aquele em que os quadros já estão posicionados, a narrativa visual já é calculada e a direção da história já é praticamente definida, com os ângulos das câmeras, posicionamento, efeitos, etc. O outro é o name explicativo, que qualquer um pode fazer. Nele, você só precisa passar uma ideia de como você quer as coisas. O desenho pode ser simples, os quadros podem ser mal feitos. A única coisa que é necessária é a limpeza e clareza das idéias. A partir desse name, o desenhista fará um name definitivo.
Explicado isso, vamos ao checklist.
-Clareza. Você deixou claro que aquele boneco de pauzinho é o protagonista e aquele é o vilão? Desenhou ou descreveu o fundo pedido (se não tem talento, muitas vezes é mais fácil escrever)? Aquele detalhezinho que você quer mostrar está visível? Se você faz tudo sozinho, não é necessário muita coisa, mas se você vai passar pra outra pessoa, quanto mais detalhe, melhor. Mesmo bonecos de pauzinho podem ser identificado por algum detalhe visual, como um cabelo ou item característico ou mesmo uma inicial no peito (no rosto, tem a expressão). Tente deixar claro suas ideias e procure a forma certa de trabalhar com o seu parceiro da arte e o editor que vai aprovar isso.
-Ordem. Suas cenas estão bem organizadas? Não tem muito quadro em uma página e pouco em outra sem necessidade? Você não expremeu o final porque acabou as páginas e sobrou história? Não tem texto demais? Os balões não estão mal posicionados?
-Narrativa. Se este é o definitivo, sua narrativa precisa estar acertada aqui. As passagens de quadro não estão bruscas demais? Não falta nenhum quadro entre um e outro? Não tem problemas de cronologia, tipo, um personagem levantar uma mão em um quadro e no seguinte, o outro braço estar levantado? Também não há problemas de posicionamento dos personagens? A indicatividade da leitura, o caminho que o olho deve seguir, está correto, natural? Os ganchos de fim de página estão funcionando? O climax é mesmo o quadro maior da história? As cenas de ação estão grandes e com poucos balões, quadros angulados? As cenas mais paradas não estão repetindo muito o mesmo ângulo? Não tem close demais? Os textos não estão muito concentrados?
-Quadros essenciais. Todo começo de cena deixa claro o lugar? Quantas pessoas? O horário ou situação de luz? Os detalhes de cenário importantes? A troca de cenário é clara? De tempo? Tem espaço para os créditos da história, nome do capítulo? Tem espaço para os elementos visuais complementares, como um marcador de fim de capítulo? Uma dica é sempre que começar uma cena, pensar em responder as questões QUEM? ONDE? QUANDO?
-Folhear. Você folheou algumas vezes? Passou o olho rápido pelas páginas pra sentir onde seu olho para quando você faz isso? Muitas pessoas não leem de primeira, folheiam antes. Ter um ou dois quadros grandes e apelativos nos cantos de página ajudam a captar esses leitores desinteressados. E muita coisa salta aos olhos folheando o name antes de desenhar. Folheie pelo menos duas vezes, uma rápida e outra mais devagar, mas sem ler, só olhando.
Tente definir ao máximo como será sua página final desenhada já no name. Ao contrário do que pensam, é no rascunho que você tem que apagar e refazer tudo que precisar. Tendo tudo mais ou menos definido, desenhar fica mais rápido, quase mecânico. E pra um editor também é muito melhor quando o name está bem definido, porque ao aprovar, ele já praticamente aprova o material final também. É por isso que também é importante o desenhista não alterar muito as páginas finais em relação ao name, acaba gerando problemas de narrativa, indicatividade, cronologia, tudo por questões estéticas como “acho que fica melhor se eu desenhasse ele de costas”. Pequenas coisas que estragam completamente um trabalho de cálculo prévio que visa exatamente evitar que esses problemas aconteçam depois.
O name não é como um storyboard para o cinema. Nele você define questões de direção, fotografia, e questões particulares dos quadrinhos, como o espaço de página, a virada de folha… E é o elo que une as partes de todo um projeto. A idéia do roteirista com a visão do editor e o talento do desenhista. Quem faz o name de uma história em quadrinhos faz o papel do diretor de um filme para o cinema e é quem define o tom que terá a história quando chegar aos leitores. Por isso, sugiro que pensem sempre com seriedade em como será feito.
Cada um trabalha de um jeito. Takehiko Inoue, em Slam Dunk, fazia um name bem completo para que seu editor entendesse tudo. Mas em Vagabond, ele praticamente não desenha, só coloca os textos e um ou outro desenho ou divisão de quadros. Vai da confiança do editor com um autor, que é referência absoluta em narrativa hoje, e que trabalha sozinho, sabe o que quer.
Alguns desenhistas fazem o name extremamente detalhado, e já no tamanho final. Depois, colocam o próprio name numa mesa de luz e fazem a artefinal nele, eliminando um processo, que seria o lápis.
Enfim, tem muita liberdade em fazer name, e é o processo que eu mais gosto em fazer quadrinhos. No Brasil, muito por conta da influência que temos de escolas ocidentais, o name em si é muito subutilizado e considerado por muitos roteiritas uma ferramenta apenas do desenhista. Mas tudo depende da forma de pensar. Um name bem feito melhora a comunicação entre todas as partes, acelera o trabalho do desenhista, pode ser usado para muitas outras coisas (em um estúdio de mangá, por exemplo, o name é usado para passar as ordens aos assistentes, onde aplicar retículas, pintar de preto, passar tinta branca, eventualmente até onde aplica cores).
http://genkidama.com.br/xil/checklist-do-seu-name-rascunho/
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